[01/19] Sobre o começo, a curiosidade e a vontade
Movido a pessoas incríveis, parte 1 de 19
Fui influenciado pelo Eduardo Belotti a escrever sobre a história da Touts (e da minha vida) e postar um capítulo por semana dessa aventura. Esse é o capítulo 1 de 19 - encontre os demais capítulos aqui.
Essa é a documentação da minha trajetória empreendedora e a história não contada sobre como criei a maior plataforma de print on demand da américa latina.
Quando vou contar a história da minha vida eu geralmente começo falando sobre minha primeira experiência empreendedora, aos 17 anos. Se você me perguntar o que me levou a querer empreender eu sinceramente não vou saber te dizer um motivo específico. Eu poderia dar várias respostas romantizadas aqui sobre querer mudar o mundo, fazer as coisas do meu jeito ou até enriquecer. Mas a verdade é que eu era só mais um moleque curioso e prepotente que subestimava o quão difícil seria fazer um negócio dar certo. Para minha sorte, a ignorância de não saber tanto foi o que me impulsionou.
Precisamos dar alguns passos atrás para ter mais contexto de como isso tudo começou. Sempre fui bastante curioso, e como consequência sempre fui bem nerd quando criança. Em retrospecto, hoje percebo que grande parte dessa curiosidade e influência veio do meu irmão, Pedro - primeira e uma das mais importantes das muitas pessoas incríveis que ainda vão aparecer nessa história.
Por ser nerd desde pequeno, passei grande parte da minha adolescência jogando video-games e no computador. Meu lado competitivo aflorou também nessa época, quando descobri que poderia ser melhor que as outras pessoas jogando online contra elas. Quando eu digo isso eu estou falando sério, eu passei tantas e horas e gostava tanto de competir que meu time chegou a ser o único tricampeão de um jogo online (GunZ: The Duel), fui MVP de uma partida entre os dois melhores times das Américas e eleito top 1 entre os jogadores da comunidade no falecido Orkut. Para você ter uma ideia, meus amigos de infância me chamam pelo meu nick do GunZ até hoje - e isso é sempre engraçado de explicar de onde veio. Uma pena que naquela época não dava pra fazer uma carreira com isso e o máximo que ganhei competindo foi um teclado…
Por passar tantas horas na internet, eu acabava participando de muitas discussões em fóruns sobre games. Se você teve o privilégio de participar de algum fórum no início dos anos 2000 você sabe que existia uma certa “moeda social” envolvida nas relações entre os membros. Além da quantidade de postagens e da data de inscrição, uma coisa que separava os “noobs” dos “pros” eram suas assinaturas. Funcionava tipo uma assinatura de e-mail, algo que sempre ia automaticamente após sua postagem. Só que num fórum de jogo, quanto mais original fosse sua assinatura, mais moral você passava a ter perante os demais. E uma assinatura fora de série era sempre composta por uma imagem maneira, geralmente de algum anime ou do próprio em questão, com seu nick e talvez mais algumas informações sobre seus personagens. Tudo isso editado e estilizado de forma única. Como eu já era bom no jogo, eu também queria ter moral nos fóruns e por isso eu tinha que dar um jeito de aprender a usar o Photoshop e criar minhas próprias assinaturas.
Já mencionei que sou curioso e competitivo, né? Em pouco tempo também fiquei bom no Photoshop de tanto ver vídeos, ler tutoriais e participar de fóruns de design. Comecei a ter as assinaturas mais maneiras e até a fazer assinaturas para outros membros dos fóruns que participava. Esse negócio de Photoshop me abriu alguns portas e em dado momento comecei até a fazer uns “freelas” pra minha mãe e desenhar a logo ou material gráfico de alguns congressos em que ela trabalhava.
Voltando a história empreendedora, no auge da minha adolescência eu, assim como a maioria das pessoas de 17 anos, era inconformado. Uma das coisas que eu não conseguia entender era como todas as marcas de roupa tinham a mesma temática: surf e skate. Apesar de ser Carioca, eu não andava de skate e nem surfava e isso me deixava puto! Na minha cabeça, nerds como eu adorariam comprar roupas feitas para pessoas como nós.
Conectando esses pontos nasceu a 1-bit - sim, é um trocadilho com meu sobrenome. Minha primeira empresa, uma marca de camiseta para pessoas nerds como eu. Era impossível saber naquele momento, mas a partir dali eu passaria uma boa parte da minha vida vendendo camisetas…
Por já manjar de Photoshop foi fácil criar as estampas. Descobrir onde produzir as camisetas também não foi um desafio, bastou uma ida ao Saara, no Centro do Rio de Janeiro, para encontrar meu fornecedor. O problema era que eu precisava fazer uma certa quantidade de camisetas para poder fazer um pedido mínimo. Por sorte eu tinha guardado o dinheiro dos freelas na expectativa de comprar um PlayStation e depois de algumas indas e vindas consegui pagar os quase R$1.000 da primeira leva de camisetas.
Negociei para ter duas estampas em dois modelos e três tamanhos diferentes de camisetas. Algumas semanas depois, eu estava no topo do mundo! Tinha feito as camisetas mais maneiras de todas e o sucesso era só questão de tempo.
Aí surgiu um outro problema: como vender essas camisetas? Eu não podia vender no colégio e não tinha como ficar levando até a casa das pessoas pra elas verem os modelos. Fora que a essa altura eu provavelmente conhecia mais gente online do que no “mundo real”. A solução era fazer uma loja online. Eu só não tinha a menor ideia de como. Algumas madrugadas e muitos tutoriais depois, aprendi o mínimo de HTML e CSS pra costurar um site. Dei um jeito de fazer as fotos das camisetas penduradas na parede do meu quarto e consegui usar os widgets de compra do Paypal - feitos para o eBay - na minha loja. De maneira surpreendente, consegui colocar uma primeira versão funcional de um e-commerce no ar.
Pronto, agora eu tinha tudo pra dar certo. Na verdade, era infalível, não tinha como dar errado. Só faltava vender, mas é claro que as camisetas venderiam como água, afinal, eram as camisetas mais legais de todas! Obviamente isso não aconteceu. Consegui vender cerca de 5 camisetas para amigos próximos e família e foi só. Passada a frustração inicial pensei que a solução seria fazer mais modelos. Só que como ainda tinha grande parte do estoque inicial, fiquei imaginando como poderia ser mais certeiro dessa vez.
Minha solução foi criar uma página no Facebook onde eu publicava as estampas e pedia para as pessoas votarem em quais elas queriam que fossem produzidas. Mais uma vez me achava um gênio, tinha bolado um jeito de prever a demanda sem gastar um centavo! A teoria fazia sentido, as pessoas escolheriam antes, eu só produziria as que fossem ter saída e de quebra ainda era uma forma de divulgar a loja. E foi assim que eu aprendi que a única validação possível é fazer as pessoas pagarem pelo seu produto. Um like não custa nada, então todo mundo votava. Mas comprar era outra história…
Em paralelo, eu ainda estava no colégio e estudando para o vestibular. De novo por ser nerd e bom em exatas, decidi que faria Engenharia Elétrica e passei para a UFRJ. E assim começou um novo capítulo da minha vida e só então comecei a entender um pouco mais do que era empreender. Mas isso é história para o próximo capítulo…
Esse texto é parte da saga onde conto a história de como fundamos a Touts, fomos adquiridos pela Reserva e criamos a Reserva INK, maior plataforma de print on demand da américa latina. Leia os outros capítulos desta série aqui.
Nasce aí um empreendedor! Muito legal a forma como um problema pessoal (não ter camisetas que me represente) nos prende, e quando menos esperamos, estamos construindo um novo negócio.
Parabéns pelo post!
Muito legal Bit! Bizarro como a gente compartilha algumas coisas parecidas, vivi essa fase de fórum de internet, aprendi Photoshop para fazer assinatura (guardo todas com carinho ainda) e por isso também fui parar no marketing da empresa júnior, onde a gente se conheceu.