Essa é a documentação da minha trajetória empreendedora e a história não contada sobre como criei a maior plataforma de print on demand da América Latina.
Estou escrevendo essa história em partes e postando um capítulo por semana dessa aventura. Esse é o capítulo 2 de 19 - encontre os demais capítulos aqui.
Entrar para Engenheria Elétrica na UFRJ foi um dos eventos mais canônicos da minha vida. Até então eu tinha vivido a minha vida inteira no mesmo bairro da Zona Sul do Rio de Janeiro e ia pra escola a pé. Do nada tive que passar a pegar 2 ou 3 ônibus para chegar na faculdade, gastando pelo menos 1h30 para ir e o mesmo tempo para voltar. Isso nos dias sem trânsito.
Gosto de dizer que a Ilha do Fundão, onde fica o Centro de Tecnologia e acontecem as aulas de engenharia, é um formador de caráter. Pra mim foi. Eu estourei minha bolha e abri minha cabeça para inúmeras coisas. Descobri que o mundo era muito maior do que eu enxergava, que existem realidades completamente diferentes das minhas por aí e, principalmente, que eu não era tão inteligente assim. Até hoje considero a UFRJ como um dos maiores celeiros de talento do Brasil e foi onde conheci algumas das pessoas mais incríveis da minha vida. Foi nessa fase da vida que aprendi a ser menos introvertido e ganhei grande parte das habilidades sociais que tenho.
É sempre mais fácil tirar esses aprendizados quando se olha para o passado. Enquanto eu estava lá, eu odiava a maioria das coisas relacionadas ao Fundão. O lugar tinha um aspecto de abandonado, era longe e o trânsito era infernal. Existiam pouquíssimas linhas de ônibus para chegar lá, o que fazia com que estivessem sempre lotados. Fora que o caminho era bem pouco agradável e passava por lugares um pouco perigosos. Me falavam que eu “dei sorte” de “só” ser assaltado uma vez em mais de 2 anos fazendo esse trajeto. As histórias de sequestros relâmpagos no estacionamento da faculdade também eram recorrentes. Não era incomum ver o “Caveirão” do BOPE manobrando nas rotatórias do fundão. Uma das situações mais bizarras foi uma vez que fui com um amigo buscar algo no carro dele e nos deparamos com um buraco de bala em um dos vidros. E a cereja do bolo era uma matilha de cachorros de rua que ficava rondando a ilha. Isso virou um problema quando começaram as histórias de que alguns alunos estavam sendo atacados. É difícil até de explicar, parece cena de Mad Max versão universitária!
Apesar de todos esses incômodos, a UFRJ oferecia muitas oportunidades para quem estava disposto. Eu dei muita sorte de esbarrar com um aluno panfletando sobre o processo seletivo da Empresa Júnior ainda nas primeiras semanas de aula. Segundo ele a Fluxo, Empresa Júnior de Engenharia da UFRJ, seria o melhor lugar para aprender a empreender na faculdade. Por já ter essa “veia empreendedora” e estar à frente da 1-bit, eu tinha muito interesse em todas as iniciativas ligadas a começar um novo negócio dentro da faculdade. Não sei se ele falou aquilo para me converter em candidato ou por acreditar no discurso, mas funcionou. Logo me candidatei e passei no processo seletivo.
Entrar para a Fluxo foi a melhor parte da faculdade. Para quem não conhece, uma Empresa Júnior (EJ) é uma organização sem fins lucrativos formada por alunos voluntários que realizam projetos e consultoria. É um ganha-ganha, os alunos ganham experiência e podem participar de projetos reais enquanto a sociedade tem acesso e se beneficia do conhecimento gerado nas faculdades em condições mais acessíveis. Uma das consequências mais legais é que os membros das EJs aprendem a tocar um negócio para fazer tudo acontecer.
Na Fluxo eu aprendi muita coisa, principalmente a ter uma ética de trabalho e a aprender mais rápido. Por ser considerado um cara criativo e saber design gráfico, fui parar no Marketing. E como eu queria aprender a tocar um negócio, o que mais me chamava atenção era a gestão da própria EJ e o contato com empreendedores. Sendo assim, me envolvi na organização dos eventos e conferências de EJs. Cheguei a organizar as maiores edições até então da Semana Fluxo, na UFRJ e do EFEJ, encontro regional da federação estadual do Rio de Janeiro. Também participei de diversos outras conferências regionais com o pretexto não só de fazer benchmark e aprender, mas também de me divertir. Era incrível viajar para várias cidades, conhecer um monte de universitários engajados com a transformação social através do empreendedorismo e as festas eram sensacionais. O EFEJ que organizamos foi em Búzios e fizemos as festas nas duas maiores boates da cidade – também batemos recorde de captação de patrocínios, de horas de conteúdo e algumas outras métricas, mas pra mim, as festas foram mais marcantes.
Estes eventos eram dos poucos onde as palestras eram sobre empreendedorismo e se podia ouvir fundadores contando suas trajetórias. Inclusive o próprio termo “empreendedorismo” não era nem um pouco popular. Nessa época a Endeavor se gabava de ter adicionado a palavra aos dicionários brasileiros alguns anos antes.
Meu maior aprendizado foi o poder de se ter uma boa desculpa para falar com alguém. E ser um aluno da UFRJ organizando um evento de empreendedorismo era uma ótima desculpa! Conversei com vários empreendedores cariocas com o intuito de chamá-los para palestrar e aprendi demais ao ouvir suas histórias. Outra lição que ficou é que as pessoas são bem mais receptivas do que se imagina inicialmente.
Um dos pontos altos dessa fase foi ter participado do JEWC, encontro mundial de Empresas Juniores, que aconteceu em Paraty em 2012 com mais de 2.000 congressistas do mundo todo. Me inscrevi no Startup Contest, a competição de pitches do evento, com uma ideia mirabolante de um programa de fidelidade gamificado com realidade aumentada. A ideia era até interessante, uma mistura de Foursquare com Pokémon Go (a frente do tempo), mas sinceramente eu não tinha a menor condição de colocá-la em prática por diversos motivos. Mas como era uma competição de pitches, o que prevaleceu foi o storytelling e nisso eu me garantia. Das centenas de participantes, fui um dos finalistas selecionados para fazer meu pitch em um dos palcos do evento.
Uma das parceiras na organização do Startup Contest era a Innvent, braço de Venture Building da Elo Group, consultoria de gestão fundada por Rafael Clemente e seus sócios, todos ex-alunos da UFRJ. O papel da Innvent era trazer uma visão do mercado para a competição, fazendo parte da bancada avaliadora julgando o potencial das startups. A expectativa era de que o próprio Clemente fizesse parte da banca, mas na hora da competição, para minha surpresa quem apareceu foi o fundador de uma das empresas investidas pela Innvent: Arturo Edo, fundador da Vandal e também aluno da engenharia na UFRJ. Curiosamente, esses dois nomes ainda seriam pivotais na história da minha vida.
Acabei não ganhando a competição de pitches, mas toda essa experiência valeu muito a pena. A partir dali eu já estava me sentindo o maior empreendedor do mundo e comecei a buscar um sócio técnico para desenvolver a ideia e montar minha startup. Fiquei nessa busca por algum tempo e enquanto não conseguia, aproveitei para ler o máximo que pude sobre startups. Foi nessa época que conheci Steve Blank, Eric Ries, Osterwalder e vários outros autores. Logo ficou claro que minha validação com uma competição de pitches não valia nada e eu não conseguiria colocar aquele negócio de pé. Meu objetivo passou a ser me expor ao máximo de experiência possíveis para ganhar experiência e montar minha própria Startup.
Durante os anos de UFRJ me meti no máximo de atividades extracurriculares ligadas a empreendedorismo que consegui. Foi uma supernova de experiências na minha vida. Trabalhei na organização do TEDxUFRJ e participei de vários TEDx. Fui voluntário no Entrepreneur Week e no Global Entrepreneurship Congress. Ajudei a organizar o Play The Call, uma ação com alunos de Harvard para reconstruir um parque sustentável público na comunidade do Vidigal. Criei uma plataforma de festas colaborativas com crowdsourcing de atrações (durou duas edições, uma deu muito certo e a outra muito errado). Me juntei a um amigo e fomos finalistas de uma competição nacional de pitches do Sebrae — fomos de ônibus pra Curitiba apresentar uma ideia aleatória de delivery de comida saudável, mas desistimos logo depois.
Tudo isso me fez perceber que o esforço que eu colocava para fazer a 1-bit dar certo não estava valendo a pena. E por mais que fosse legal conhecer um monte de gente e viver experiências novas, fazer mil projetos diferentes ao mesmo tempo também não. Decidi que era hora focar e ir trabalhar em alguma startup começando para ver de perto como se tira um negócio do papel. Tudo para que, quando fosse minha vez, eu pudesse pular algumas etapas por já ter aprendido uma coisa ou outra.
Foi conversando com várias pessoas sobre essa vontade que descobri que o Arturo, que eu tinha conhecido em Paraty, estava buscando alguém para ser o “funcionário zero” da Vandal, empresa que ele havia fundado pouco tempo antes. Na mesma hora eu fui atrás dele no Facebook e mandei uma mensagem.
Depois de duas semanas eu havia me transformado no icônico “Estagiário da Vandal”. Foi assim comecei a trabalhar efetivamente em uma startup e você vai entender o que significa ser “O Estagiário” no próximo capítulo.
Um dos maiores proveitos que podemos tirar da fase universitária são as conexões que fazemos. Sempre vai existir um grupo engajado em discussões relacionados a um tópico de nosso interesse.
Similarmente, na minha época de faculdade o meu tópico de maior interesse também era empreendedorismo. Participava de palestras, competições e conversava com todos os professores empreendedores que podia!
Durante minha época na universidade, encontrei um amigo com ambições similares a minha e juntos fundamos uma startup. Senti que foi uma fase onde mais obtive abertura para conversar com qualquer grande empreendedor da região. Bastava dizer que éramos estudantes e que estávamos montando uma startup que as pessoas se solidarizavam e doavam alguns minutos (as vezes horas) para nos ajudar com nosso projeto!
Legal saber que a URFJ proporciona momentos assim também!