Essa é a história da minha vida e da minha trajetória empreendedora. Também é a história não contada sobre como criamos a maior plataforma de print on demand da América Latina sem saber nada do mercado, ter família rica ou levantado milhões de reais.
Fui influenciado pelo Eduardo Belotti e estou escrevendo essa história em partes, postando um capítulo por semana dessa aventura. Esse é o capítulo 5 de 19 - encontre os demais capítulos aqui.
Estávamos vivendo meses terríveis no trabalho e pouco tempo antes eu tinha tomado a decisão de largar a faculdade de engenharia, para desespero da minha família.
Nunca faltou apoio às minhas decisões em casa, mas lembro da minha mãe ficar visivelmente preocupada quando disse que ficaria alguns meses trabalhando depois faria vestibular para a PUC. Como ela já tinha visto que eu gostava de trabalhar, a preocupação era de que eu nunca mais voltasse pra faculdade.
Isso e o fato de que a PUC custava uma fortuna.
Pra tentar minimizar um pouco o impacto da minha decisão na vida da minha família, eu assegurei que eu arcaria com todos os custos da faculdade. Por isso, a situação da Vandal estar mal resolvida também impactava meus planos de vida no curto prazo.
De volta aos negócios. Como mencionei, ficamos longos meses tentando resolver um imbróglio entre os sócios da Vandal: Arturo, Ricardo e Innvent. No fim, tentamos de tudo e não conseguimos resolver de maneira amigável.
Se eu puder deixar uma dica para você que está lendo é: comece com o fim em mente. Invista tempo quando começar seu negócio pensando em resolução de conflitos ou prevendo cenários de impasse, como a saída de um sócio.
Já ouvi muita gente dizer que sociedade é igual casamento. E já ouvi muito mais gente dar o conselho de adiantar discussões sobre um divórcio antes do casamento, mas não a versão empresarial da coisa.
Então fica aqui um conselho: comece com o fim em mente. Inclusive o fim que você não quer que aconteça. Aparentemente serve tanto pro matrimônio quanto pra sociedade.
Bom, o resumo dessa ópera toda foi que ficamos cerca de 9 meses trabalhando na Vandal sem sinal de resolução. Foram feitas ofertas de compra, de venda, de reestruturação, de todas as formas que você puder imaginar.
A solução final foi a venda da participação do Arturo e da Innvent na Vandal por um preço ridículo. A negociação final foi algo em torno de R$150.000,00 pagos ao longo de vários meses, uma cópia do código fonte do site, metade do estoque de tecido e uma das duas impressoras de camisetas. No fim, optamos por seguir o conselho do Pedrinho e “ligamos o foda-se”.
O desgaste era tão grande que a gente só queria poder voltar a trabalhar feliz em um negócio que acreditássemos. Escolhemos sair mesmo sabendo que a “venda” a contragosto foi um péssimo negócio e a empresa valia pelo menos cinco vezes mais.
Foi um mix de sentimentos muito grande. O alívio de ter uma solução e o pesar de largar tudo que a gente tinha construído pra trás.
É muito louco pensar que me sentia tão parte de tudo que me esqueço que eu ainda era só um estagiário no meio disso tudo.
Lembro de conversar muito com o Arturo sobre o que fazer no futuro. Eu cogitei aproveitar esse momento e começar meu próprio negócio. Ele também tinha certeza de que iria empreender de novo, então fazia sentido seguirmos juntos.
Nos meses anteriores, falávamos muito sobre ideias do que fazer, que negócios seriam boas oportunidades e esse tipo de coisa. Quando realmente estávamos livres para fazer qualquer coisa, não demorou muito tempo para chegarmos a conclusão: vamos fazer a mesma coisa, só que melhor!
Tínhamos passado meses pra finalmente ficar bons em alguma coisa. Já sabíamos operar e tínhamos tudo que precisávamos para começar o quanto antes. Era óbvio que a gente deveria montar um marketplace para ajudar artistas independentes a venderem suas artes em produtos.
O tempo que passei trabalhando na Vandal me ensinou muitas coisas, mas a principal delas foi a forma de trabalhar.
Nunca vou me esquecer de conversar com o Arturo sobre o que a gente faria no futuro e percebermos que o mais importante já sabíamos: como iríamos fazer o que quer que fosse.
A gente brincava que podia acabar abrindo uma barraquinha de cachorro-quente, mas a gente já sabia a forma como a gente iria vender cachorro-quente. A atenção aos detalhes, a vontade de fazer as pessoas sorrirem, a preocupação com os clientes e pessoas, a ambição por construir algo maior do que nós mesmos e o principal: contar histórias de pessoas incríveis.
Nesse momento eu aprendi uma das maiores lições de toda essa jornada. Nesse momento eu percebi o que era importante para mim e o que me deixava mais realizado no trabalho. A coisa que eu mais gostava de fazer era conhecer pessoas incríveis e de alguma forma ajudá-las a chegar mais longe.
E foi em uma reunião para decidir o nome da nossa próxima empresa que surgiu a frase “movido a pessoas incríveis”.
Eu acredito — até hoje — que todo mundo é incrível de um jeito ou de outro, e algumas pessoas só precisam de um empurrãozinho para chegarem lá. Nós queríamos ser esse empurrão para milhares de pessoas que buscavam vender seus produtos na internet.
Assim, no fim de 2014, nasceu a Touts. O termo veio da vontade de ter um nome curto, que tivesse um domínio disponível e não carregasse um significado prévio. “Vandal”, por exemplo, tinha uma conotação negativa para alguns.
Foi de uma variação da frase “todas as pessoas são incríveis” em francês que tiramos a palavra “Touts” – e sim, a gente passou um bocado de tempo experimentando variações em diversas línguas.
Nós amamos o nome nos primeiros meses, mas com os anos fomos achando cada vez pior. Era terrível de se pronunciar, cada um falava de um jeito, e ninguém acertava nossos e-mails ou a URL do site depois de uma conversa — da série de coisas que parecem uma boa ideia na hora, mas anos depois você vê que não é bem assim.
Foram necessários mais alguns meses para acertarmos e assinarmos tudo. Nesse meio tempo, focamos todas as nossas energias em construir algo que fosse melhor que a Vandal.
Tudo era uma competição com nós mesmos. E a barra era alta. Tínhamos feito tantas coisas diferentes e criativas que nossos clientes amavam que parecia impossível. Sabe no Mario Kart quando você tem que correr contra seu próprio fantasma para bater seu tempo? Era assim que a gente se sentia...
A Vandal mandava um bottom de brinde na camiseta. Como que a gente poderia mandar um brinde mais irado? A Vandal tinha embalagem de foguete. Como que a gente faria uma melhor? A Vandal mandava bem no branding. Como a gente iria além? E assim por diante.
O mais impressionante desse processo foi que as respostas foram vindo naturalmente e conseguimos conectar todos os pontos de uma forma muito mais coesa com a marca. Depois até ficamos achando que a marca da Vandal era caótica, com muita personalidade, mas sem coerência.
Deixa eu explicar melhor pra não ficar parecendo aqueles papos soltos de Branding.
O que entendemos e foi poderoso na Touts foi o conceito do “movido a pessoas incríveis”. Tudo que fazíamos envolvendo outras pessoas se tornava mais incrível. Essa foi a grande sacada.
As caixas de embalagem dos pedidos se tornaram objetos de decoração reutilizáveis que também eram mídias para esses criadores. A cada tiragem, convidávamos um artista para ilustrar as caixas e dávamos espaço para contarem sobre si, com um link para nosso blog com um entrevista em profundidade.
Com os brindes, a mesma coisa. Nossos brindes eram todos assinados por artistas da plataforma e carregavam suas histórias — o mais legal foi um “não perturbe” com a frase “Please do not disturb, I’m disturbed enough already” de um artista da California.
Demos a sorte de duas das pessoas mais incríveis que conheço até hoje estarem começando um estúdio de design juntos: Leandro Assis e Romulo Pinheiro. Sério, esses dois são fenômenos e sou fã de carteirinha do trabalho de cada um.
No fim de 2014 eles estavam começando a Relâmpago e o Romulo foi conversar com o Arturo para contar sobre a nova empreitada. Nesse papo decidimos que eles fariam a identidade visual da nossa marca nova.
Acho que nem se chamava Touts ainda, mas eles ficaram amarradões porque seríamos um dos primeiros clientes. A entrega foi absurda, ficamos com uma identidade visual de dar inveja e por um preço ridiculamente barato.
Estávamos super animados e com tudo da operação resolvido para começar. Só esquecemos de um detalhe: o site.
Não sei se você lembra, mas nossos desenvolvedores tinham saído. A gente passou meses tocando o negócio no “piloto automático”, com o que estava no ar.
Só que agora precisaríamos lançar um site novo tendo apenas acesso a uma cópia do código. Não ia rolar.
O caminho para a Touts existir foi trazer mais um sócio para o negócio: a Moobile.
A Moobile era uma software house que o Iuri Menescal, Luiz Costa e Diego Callegario montaram juntos. Como a gente não tinha muita grana, oferecemos pagar pelo trabalho deles em equity e eles toparam. O lado bom é que eles trabalharam na Innvent e nós já conhecíamos todos.
A Moobile foi primordial para sairmos do zero dentro do tempo planejado e eles fizeram um trabalho incrível nas primeiras versões do site. Hoje acho engraçado lembrar do pessoal nos ensinando mais ou menos como funcionava um Kan Ban bem básico por que a gente não fazia ideia de nada relacionado a produto.
Olha, se você pedir minha opinião hoje, eu sempre serei extremamente contra trazer uma software house pra ser sócia de um startup.
No papel a ideia é ótima, mas na prática tem muitas chances de ser ruim pra todo mundo. E sério, se você quer trabalhar com tecnologia você precisa ter isso bem feito dentro de casa, idealmente por pelo menos um sócio técnico.
Dito isso e passado o momento “faça o que eu falo, não faça o que eu fiz”, foi ótimo. Realmente não teríamos saído do zero de outra forma.
Em Março de 2015 tínhamos tudo pronto pra lançar o site. Estoque pronto, CNPJ novo, site no ar, artistas convidados para a nova plataforma, embalagens, brindes, identidade visual, impressoras, conta no banco, adquirente, enfim, tudo que você imaginar. Só não imaginávamos que…
Quando vem um desse, você já imagina que vai dar merda, né? E deu mesmo. A Elo se mudou para um escritório que não poderia mais abrigar nossa operação e ficamos ao mesmo tempo sem teto e sem chão. Mas isso é história pro próximo capítulo.
Porraaaa, deu saudades da Touts! Movido a pessoas incríveis era realmente o princípio que guiava tudo. Foi foda ver isso de perto!
"Invista tempo quando começar seu negócio pensando em resolução de conflitos ou prevendo cenários de impasse, como a saída de um sócio".
Esse é o concelho que queria ter escutado quando comecei a empreender. Na minha primeira startup, lembro de uma época em que meu maior foco era resolver brigas entre os sócios. Foram meses muito desgastantes e que para piorar, não agregavam nada ao cliente. Foi um período que eu olhava mais contratos da empresa do que as dores dos clientes. Vivendo e aprendendo.